Não subestime o tempo de vida da comunicação.

Quantas vezes deixamos de dizer a alguém o que devíamos ter dito? Essa falha, aparentemente sem importância, dá, então, outro rumo aos acontecimentos. Bem diferente do que teria sido se tivéssemos dado, a nós, a chance de falar e, ao outro, de ouvir.
Sentimos, depois, que perdemos algo valioso: a oportunidade de usar o dom da palavra no momento certo. Percebemos, inclusive, como as nossas diferenças, com as pessoas, nos impedem de falar com elas, abertamente, e de permanecer receptivos ao que elas têm a dizer. Essas diferenças poderiam ser superadas se investíssemos mais na nossa forma de comunicação. Em nível pessoal ou profissional. Ou se atuássemos em sintonia com a capacidade de resgatar o diálogo, reparando comunicações feridas e interrompidas, que só resultam em desperdício de tempo e energia. Em desamor.
Curiosamente, no entanto, banalizamos o dom da comunicação, herdado por nós. Então, cometemos erros, primários e graves, vistos como omissões. Experimentamos, inclusive, perda de relacionamentos. E tudo porque negligenciamos algo essencial: herdamos as capacidades de pensar, sentir, falar e agir, aquelas que formam o processo de comunicação individual. Cada processo tem o seu próprio tempo para existir e ser utilizado. Esse tempo, variável, é o mesmo concedido a cada vida humana.
Essa verdade nos faz sentir que tudo poderia ter acontecido de outro modo. Afinal, somos seres privilegiados, capazes de dominar a arte de lidar com o poder da palavra, e de dar liberdade a pensamentos e sentimentos, em forma, inclusive, de palavras escritas. Isso quer dizer que, estamos aqui para desempenhar o papel de "comunicadores humanos", da melhor maneira, nessa roda de acontecimentos inesperados que é a vida.



FALHAS &EFEITOS



O que acontece quando não usamos esse privilégio, exclusivamente humano, de comunicar a nossa real intenção, expressando o que está dentro de nós? Sufocamos, é claro, sentimentos, percepções, emoções, que podem, até mesmo, transformar uma situação negativa. Talvez pela incapacidade de vencer a timidez, a insegurança. Ou pelo medo de expor o "nosso avesso", o lado emocional que revela a nossa essência, e nos torna frágeis, vulneráveis. É como se resistíssemos a deixar fluir pensamentos, sentimentos, palavras e ações que determinam o rumo das nossas histórias de vida. Em nível pessoal ou profissional.
Sob o ponto de vista da humanização, nossos corações se afastam, nos distanciamos uns dos outros. Perdemos a prática de vivenciar pessoas de forma plena. Deixamos de dar e receber. E tudo porque não dizemos o que precisa e deve ser dito no momento que temos para fazer isso. Assim, não permitimos que a palavra cumpra a sua missão de promover a troca. Ficamos em falta com o nosso propósito como pessoas e profissionais. Com o próprio processo de comunicação criado pela vida, e que é a base do êxito na empresa, e na sociedade.
Precisamos cuidar, então, para que essa tendência individual a falhar na comunicação - em nível menor ou maior, de modo consciente ou não - não resulte na dor da impotência, devido à nossa incapacidade de dar, à comunicação humana, a dimensão - ou a essencialidade - que ela deve ter.
Essa dor é armadilha das mais perigosas. Ele cega e confunde. Enfraquece o poder interior, a vontade, a determinação, a capacidade de liderança. Impede que a intuição e a sabedoria nos mostrem as pessoas e as situações como realmente são. Limita a capacidade de perdoar, que nos mantém livres de mágoas ou ofensas. Não deixa que o verdadeiro eu venha à tona, e que comuniquemos credibilidade. Não permite a expressão adequada do nosso potencial, dificultando o crescimento profissional. Compromete, também, a capacidade de relacionamento com quem está acima e abaixo de nós. Até porque quando falhamos na comunicação com alguém é porque a sintonia com o nosso interior está, em algum nível, afetada.
A própria vida e a empresa não oferecem espaço para a transformação do processo individual de pensar, sentir, falar e agir? Apenas isso não significa "evoluir", aprimorando os aspectos pessoal e profissional? Por quê, então, atuamos condicionados a cometer e repetir erros na comunicação, sofrendo as suas conseqüências? Por quê entregamos ao tempo a tarefa de reparar esses erros, quando cabe a nós fazer isso, como pessoas ou profissionais?
Devemos, portanto, retomar a prática de vivenciar pessoas, de forma intensa, através da palavra, dita, a tempo e a hora, investindo mais na nossa comunicação, sem que seja preciso experimentar a perda da oportunidade e os seus efeitos, para compreendermos, finalmente, a importância desse tipo de investimento. Até porque, seria lógico que continuássemos a pagar o preço de constatar "o que não pode mais ser, mas poderia ter sido, se tivéssemos agido diferente".
Isso não seria o mesmo que solucionar falhas de comunicação, ultrapassando diferenças, que resultam em distâncias emocionais? Não seria também recuperar comunicações feridas, que resultam em perdas, até mesmo irreparáveis, de tempo, energia, conhecimento e amor? Não seria, ainda, valorizar o tempo que cada um tem para comunicar pensamentos, sentimentos, palavras, e fazer o que deve ser feito? Negligenciar ou subestimar esse tempo não seria pecar, de modo grave, por omissão?
Portanto, expresse o que está em você, mesmo sem a certeza da reação do outro ou se vai ter resposta. Use a palavra, a sua oportunidade, o tempo, que você recebeu. Faça a sua parte. Em qualquer circunstância.
Afinal, precisamos uns dos outros. Então, só nos resta usar uma comunicação sem falhas ou omissões. Mais humana. Aquela que é feita de razão e emoção, e pode aproximar pessoas, transformar o nosso mundo tão imperfeito.
                                                             
                                                                            Lúcia Mendonça